Acordo. A janela ainda está escura e os pássaros ainda não tem coragem de cantar.
Sento no canto da cama, encontro meu pés tortos e os ajeito, sinto os ombros caídos e os coloco ao longo do corpo enquanto endireito minha coluna. Olho pra cima e reforço os músculos do corpo pra gerar energia e enviar sangue pro cérebro. Tenho a primeira prova de consciência: "Pra que levantar? Pra que esse ritual?".
Começo a criar meu dia, planejando cada segundo, cada passo e cada momento. Traço uma rítmica fúnebre em direção a excelência, melodia descompassada ao memorizar cada movimento e assinar com meu sangue cada compasso. Transformo em um álbum com espaços para os interlúdios surpresa.
Me levanto e recebo um choque; Me vejo em um palco distante, finalizando o espetáculo e me saudando no público. O Eu artista agradece e deixa o palco, enquanto o Eu observador entra em transe. Volto a realidade e me preparo pra reger o universo nesse espetáculo para que não seja tocado em vão.
Mesmo que eu tenha me vencido nesse momento, ainda tenho a gravidade e todas as outras galáxias para driblar e não quebrar o ritmo da minha música durante o resto do dia.